FIND
coolhunting
parte 1
por @andressajurema

Em mais de 15 anos de experiência em Fashion Business, Branding, Pesquisa e Consumo, vocês já trabalharam com veículos como a Elle Brasil, Grupo Soma, Vogue Brasil, Glamour e Harper's Bazaar, entre outros. O que vocês destacariam no mercado nacional e internacional de moda nos dias de hoje?

Natália Fialho @_natyfialho: O mercado de moda e de qualquer bem de consumo é e vai continuar sendo
fortemente impactado por duas grandes questões: a digitalização do cotidiano e a crise climática. O mercado de moda (e de qualquer outro bem de consumo) está, e vai continuar sendo fortemente impactado por duas grandes questões: a digitalização do cotidiano e a crise climática. A evolução da inteligência artificial implica não apenas a recriação da realidade dentro do mundo virtual, como mas transporta novas estéticas do mundo digital para o físico. A era da hiperconectividade impacta a subcultura e a cultura de massa e, consequentemente, a maneira como percebemos as tendências hoje. Já a crise climática, vai cada vez mais nos obrigar a revisar nossos hábitos. Deixou de ser apenas
uma questão ética e de sustentabilidade que envolve tecidos, modos de produção e comercialização. Temperaturas extremas, por exemplo, vão requerer inovações tecnológicas e a roupa vai ser uma ferramenta de sobrevivência.

Como especialistas e cofundadoras da FIND, comunidade e observatório de tendências voltados para moda, cultura, business e futurologia, como vocês se sentem em relação às mudanças no mercado de moda no Brasil (Natália) e Paris e Berlim (Paula)?

Paula Saady @parismechama: A comunicação de moda evoluiu muito rápido e as revistas/mídias em geral perderam espaço para as vozes das redes sociais. É um momento de rever a narrativa e protagonizar a identidade e a cultura brasileira. Vejo muitas marcas nesse caminho e estou adorando. Paris continua como a capital da moda, marcas e fornecedores do mundo inteiro se encontram aqui nas feiras, fashion weeks, congressos. Não tem como dissociar Paris da Moda e das grandes marcas de luxo. Paris cuida da sua história e do seu marketing um com zelo impecável. O mito da Parisiense, a Cidade Luz, Cidade do Amor, enfim tudo é associado à arte de viver de forma chic. A vida real na cidade não é bem assim, mas o que fica é essa imagem que faz o mundo sonhar. Berlim se reconstruiu de outra maneira, a reunificação aconteceu há pouco mais de 30 anos, tudo é novo. A cidade se afirmou inicialmente como a capital da música eletrônica, e da vida noturna que é a identidade da cidade. É uma cidade, mas também é muito voltada para a vida comunitária e sustentabilidade.
FIND
coolhunting
parte 2
por @andressajurema

A Fashion Is Not Dumb, como o nome já diz, veio para mostrar que moda não é futilidade. O que podemos aguardar para o lançamento do curso Eu Coolhunter 2.0?

Ambas: A FIND é um estúdio cultural, uma narradora de mudanças em que traduzimos o espírito do tempo e oferecemos direcionamentos para nossa comunidade identificar possíveis futuros, questionando a moda e a cultura.  Na nossa primeira edição, demos ferramentas para que mais de 100 alunos criassem seu próprio relatório de tendência. O Coolhunter 2 é a nova versão mais aprofundada, com 40 horas gravadas por 4 professores de diferentes áreas da futurologia, encontros semanais ao vivo e uma série de convidados especialistas, como Caio Braz e Andréia Matos, que vão fechar os trabalhos de 2023.

Que livros vocês estão lendo no momento? Quais títulos vocês recomendam para quem curte Pesquisa de Moda e Tendências?

Paula @parismechama: Eu estou lendo “Pornotopie” do Paul Preciado, sobre a criação do personagem social “pessoa solteira que mora sozinha” a partir dos anos 1950 e midiatização da sexualidade e da vida privada. Além de “The New Luxury: Defining the Aspirational In The Age of Hype”, sobre o esporte invadindo o mercado de luxo.

Natália @_natyfialho: Eu tenho tentado ler coisas leves como contos para o lazer. Estou curtindo ler “Primeira Pessoa do Singular”, do Haruki Murakami. Para o trabalho, para me aprofundar em algumas questões culturais do nosso espírito do tempo: “A Cultura do Narcisismo”, de Christopher Lasch e “Sobre a Liberdade: Quatro Canções Sobre Cuidado e Repressão“, de Maggie Nelson.

Quais os próximos projetos não tão secretos da FIND e de vocês duas? Podemos aguardar futuros cursos?

Ambas: Adoramos um mistério, então já temos algo muito especial planejado, que vamos contar para vocês em primeira mão: vamos lançar o Eu Coolhunter presencial, em Paris. Combinando aulas teóricas com uma imersão cultural bastante prática. Queremos ser uma plataforma de cursos, sempre com um foco no uso prático, e inserção no mercado profissional.
Erika Palomino
mulheres na moda e na comunicação
parte 1
por @andressajurema

Desde os anos 1990, você tem sido uma das mulheres mais influentes no jornalismo de moda nacional. Com toda sua experiência, como você entende o mercado brasileiro de moda nos dias de hoje?

Erika @erikapalomino: A indústria da moda é cheia de especificidades. Mas hoje, sem dúvida, está bem mais profissionalizada do que há 30 anos. A economia impacta muito diretamente a forma como as pessoas consomem.        A indústria é complicada e cheia de especificidades. Porém, sem dúvida, está bem mais profissionalizado do que há 30 anos. O público consumidor é muito impactado pela economia. Não fosse a queda do poder de compra, sobretudo da classe média, e teríamos um mercado mais sólido. De toda forma, no Brasil as pessoas gostam muito da moda, curtem acompanhar modismos e tendências e têm uma forma especial de vestir, nas diversas regiões do país.

Você presenciou muitas fases na comunicação de moda, desde as revistas em que colaborou, passando pela House of Palomino e tantos outros projetos. De revistas a blogs, o que você sente em relação às mudanças no mercado editorial brasileiro?

Erika @palomino: O consumo da informação de moda migrou para o digital, isso é fato e é irreversível. É possível sim ter vida inteligente nas redes sociais, mas precisa haver muito esforço e disciplina. O consumo da informação de moda migrou para o digital, isso é fato e é irreversível. É possível sim, vida inteligente nas redes sociais, mas é preciso esforço e disciplina. As revistas precisaram se reinventar e garantir sua relevância num cenário tão pulverizado. Entretanto, a democratização das falas nas redes proporcionou o surgimento de outras vozes, furando bolhas e hierarquias sociais e raciais antes, ou ainda, perpetradas pela grande mídia.
Erika Palomino
mulheres na moda e na comunicação
parte 2
por @andressajurema

Quais são as suas leituras do momento?

Erika @erikapalomino: Estou terminando 'Torto Arado", de Itamar Vieira Júnior; começando o livro da Luiza Brasil,
que é uma grande comunicadora de moda da nova geração, e lendo/vendo o livro novo da Patti Smith. Comecei também "Um Defeito de Cor", de Ana Maria Gonçalves, espetacular e necessário.

Você é uma personalidade de vanguarda. Com esse “lugar de fala", o que você gostaria de ver como “o novo” na moda?

Erika @erikapalomino: Estou interessada na moda que vem das periferias dos grandes centros, do Rio e de SP, na
nova produção do Nordeste, em marcas pequenas que comunicam e vendem pela internet. Além disso, interseções de moda e arte, como no trabalho de Vicenta Perrota e Manauara Clandestina, por exemplo, me interessam bastante.        A exposição de Maxwell Alexandre, "Novo Poder: Passabilidade", questiona os códigos da moda e das artes de forma original e crítica. Tem muita energia e conversa com o hoje. Acho que a I.A. ainda vai gerar coisas que a gente ainda nem sabe. Gosto de acompanhar.

Que conselho a Erika Palomino de hoje daria para os futuros nomes da comunicação de moda brasileira?

Erika @erikapalomino: Leiam, leiam de tudo. Estudem. Vejam desfiles de todas as épocas. Acompanhem as críticas de moda (ainda que no Instagram). Conversem entre si, vejam filmes e exposições e vivam a vida física. Tem muita coisa que só pode acontecer presencialmente.
Aline Monçores
mulheres na moda e na educação
parte 1
por @andressajurema

Aline, conta para a gente como inicia a sua trajetória com a moda.

Aline @moncores: A minha trajetória com a Moda começa na infância. Com o tempo, fui me interessando cada vez mais e, com 15 anos, fiz um curso de ilustração de moda no Rio. Depois, fui trabalhar como Assistente de Vitrine e acabei indo parar no departamento de estilo como assistente, o que me levou a cursar faculdade de Moda na Veiga de Almeida. Estava na casa dos 20 anos e tudo começou pelo desenho. Aos 27 fui trabalhar na área de pesquisa de tendências do Senai CETIQT. Acabei gostando muito da dinâmica, o que me fez migrar da área de produção de objetos para a área de pesquisa. Comecei a viajar, ir para fora do Brasil, acompanhar feiras, catálogos, bureaus, etc, o que me aproximou dos estudos sobre consumo. Em 2006 comecei a fazer parte de um projeto sobre comportamento e consumo, abraçando de vez a academia, as áreas de ensino e pesquisa.

Como foi para você a experiência de ter sido professora e coordenadora do mesmo curso que você se formou?

Aline @amoncores: Entrei no Senai Cetiqt em 2011 para atuar como professora, em busca de novas oportunidades. Eu já ensinava na PUC-Rio há 2 anos e achei que seria incrível voltar para o lugar em que me formei. Inicialmente foi um grande desafio, já que o curso estava bem fragilizado e faríamos uma série de reformas nos laboratórios. Não foi algo fácil de ser feito, foi lento e complexo. Eu sempre tive em mente que era muito importante formar um sujeito que entendesse não só de moda, mas também do seu papel crítico social. Para você refletir ou questionar aspectos daquela sociedade, tem que ter muita leitura, seja de base, seja contemporânea. É preciso estar atualizado não só na Moda, mas na arte, na política e em várias outras questões sociais. Hoje sou professora na UDESC, em Florianópolis, e percebo que tenho uma visão mais ampla do currículo. Foi muito enriquecedor.
Aline Monçores
mulheres na moda e na educação
parte 2
por @andressajurema

Como você entende o mercado de moda e mulheres em posição de liderança?

Aline @amoncores: Grandes mudanças aconteceram nesses últimos 20 anos.

O mercado brasileiro ganhou muito em amadurecimento, mas ainda mantém algumas características que não são legais como: um alto grau de informalidade, uso de mão de obra não-especializada, improviso demais, aproveitamento de pessoas que não necessariamente têm uma formação técnica específica. Então, o que vejo hoje é que muitos empresários ainda não estão alinhados com o mercado internacional e persiste o uso dessa mão de obra, o que se reflete no tipo de produto que a gente desenvolve. Temos poucas marcas com desenvolvimento realmente autoral e expressivo. Com relação à mulher profissional, é uma mudança que está acontecendo no mundo todo. A mulher está ganhando mais espaço e tendo mais voz. Mas, para ter essa voz, há que se lutar muito. Sim, existem movimentos que tentam enfraquecer o papel importantíssimo que lutas feministas e femininas tiveram ao longo desse último século, o que aumenta a pressão sobre a mudança. A posição de liderança não é uma posição fácil e em geral depende de se fazer um  intencional de conquista. Você precisa ser reconhecido como tal e as pessoas precisam acreditar que você está trabalhando pelo grupo e não por você mesma.

A grande maioria das mulheres tendem a pensar mais coletivamente. Então, de uma certa forma, as lideranças femininas acabam agregando mais colaboração, participação, respeito. O problema é que a gente leva muito tempo para conseguir isso, né? Então, acredito que as mulheres ainda enfrentam dificuldades adicionais para serem líderes
profissionais, mas acho que estamos caminhando para isso. Eu espero, sinceramente, que as minhas alunas, colegas e amigas consigam olhar para os objetivos que realmente importam e carreguem em si todas essas visões de autoconfiança, poder, conhecimento e competência, para que tenhamos cada vez mais mulheres líderes e profissionais participando do mercado.


Aline Monçores
mulheres na moda e na educação
parte 3
por @andressajurema

O que você, enquanto pesquisadora e especialista, destaca no cenário atual da moda brasileira?

Aline @amoncores: Estudos e pesquisas sobre tendências no Brasil estavam caminhando muito bem. Mas, de 2016 para cá, tivemos uma recessão, refletida na abordagem das empresas. Percebo que as que sobreviveram redirecionaram seus investimentos para as áreas de comunicação, branding, posicionamento estratégico. 
Hoje em dia elas flertam muito mais com marketing e com as inteligências artificiais, que estão participando mais dos processos de criação e execução. E temos a questão da sustentabilidade. Precisamos promovê-la, mudar a nossa lógica de produzir informação. Não existe ‘o grande e o novo’ todo ano nem toda semana, precisamos tratar de questões como a de decolonialidade, cultural local, diversidade, gênero, etc. Acredito que estamos em um grande momento de mudança.

Para encerrar, você indicaria outras mulheres inspiradoras da Moda e na Educação?

Aline @amoncores: Há acadêmicas brasileiras que eu admiro muito, como a minha amiga antropóloga Solange Mezabarba, Cláudia Bonadio (da UFJF) e Mara Rúbia. Tenho profunda admiração pelo trabalho delas. Hoje a Kátia Castilho não é mais professora, mas faz um trabalho extremamente interessante. Admiro a forma como ela conseguiu se colocar no mercado editorial que era predominantemente controlado por homens, criando a Editora Estação Letras e Cores, dando voz a muitas autoras mulheres e abrindo espaço para os livros de Moda e design. A Maria de Fátima Mattos criou com a Kátia o Colóquio de Moda, um evento anual importantíssimo e pioneiro. Sem elas, acredito que estaríamos em um estágio bem diferente de desenvolvimento desse ‘pensar moda’ e ‘fazer moda’.
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